segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O Piano da Estação da Luz

Senhor Roberto Carlos depois de vinte anos pegando o mesmo ônibus todos os dias pra ir ao seu trabalho, deparou-se em seus cinqüenta e um anos de vida com uma greve da empresa responsável pelo transporte coletivo que o conduzia entre o lento transito de São Paulo. Sem querer perder a remuneração pelo dia não trabalhado, resolve caminhar um pouco mais e ir até a Estação da Luz. Caminhava ligeiro e inseguro pelo salão de entrada do metro, quando percebe o som de um piano de caixa, que ressoava todo ambiente, a criança batia os dedinhos nas teclas com uma suavidade aleatória e melódica. Roberto parou e olhou e seu corpo se inclinou tanto em direção aquele objeto espetaculoso que os primeiro passos foram impulsos. Chegou perto, parou, olhou, chegou mais perto, olhou minuciosamente toda a caixa andando em volta dela mantendo ainda uma distancia de uns quatro metros e parou de novo em frente à criança que brincava com as teclas. Lembrou outrora de seus sonhos juvenis, inebriado pelas noites boemias antes do casamento, cantando em bares nas madrugadas imemoráveis da vida noturna paulistana. Sua lembrança não vagou imagens, mas um sentimento daquele precioso efervescer humano de fazer algo interessante e ultrapassar o convencional da vida estabelecida. A criança saiu do piano, chamada pelos pais e interrompeu a trilha sonora de sua viagem. Outro impulso o colocou de frente aquele piano e suas mãos trêmulas tocaram as teclas tão suaves e tímidas que não emitiu nenhum som. Tomado de emoção e nostalgia fechou os olhos e vibrou notas descompassadas e tensas. As pessoas continuaram a passar apressadas e despercebidas, algumas raras reparavam. Roberto Carlos esqueceu tudo e foi com ambas as mãos perscrutando os sons produzidos e tentando entende-los. Se sentou em seguida pôs a mochila no chão de lado ao banquinho e surpreendente começou a tocar, ou melhor inventar uma musica apoiada em sua própria memória. Primeiro pareceu musica de desenho, depois um Fado Português e foi pra Jaz e Samba e Forró, mas sempre com notas erradas e sujas. O que realmente se alterava era o ritmo. O resto foi combinações boas que captou e se divertiu horas e horas a fio. Nesse dia não teve fome, nem vontade de ir ao banheiro e nem sequer se lembrou do trabalho, motivo pelo qual passava por ali. O dia acabou. O fluxo de pessoas diminuiu e os funcionários da estação o tiraram do transe em que se encontrava com muita educação e paciência. Foi um grande susto pra Roberto Carlos perceber ter perdido o dia todo ali diante daquele Piano. Regressou pra casa extremamente assustado pelo acontecido, mas também carregava em seu intimo um sentimento de realização muito grande e verdadeiro. Tentou seguir sua vida normalmente depois daquele dia, mas após três dias voltou cedinho e não saiu mais do Piano da Estação da Luz. Vive hoje passando o chapéu após cada musica que executa e aprendeu acordes feitos e músicas inteiras agora como um verdadeiro profissional.

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